quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Breve História de Um Psicofármaco: Parte 1 – “Zé Benzinho”

         Estão prestes a encontrar-se novamente, os químicos que, quando abraçados, dão origem a mais um “redondinho milagroso”. Desta vez, parece que será um consumador de “milagres nervosos”, ou “anti-nervosos”. Será o Papa? Será Jesus? Será Deus? Não, é um psicofármaco! É um daquela espécie que faz aplanar a actividade nervosa “simpática”. Que provoca o relaxamento das comunicações inter-neuronais. Que transforma leões em preguiças. Que traz vida morta à morte vivida. Que apaga a chama da “revolução interior”, sabendo, claro, que nem todas as revoluções são benéficas. Mas serão todas maléficas? As interiores são, no mínimo, controversas. Mas trazem, muitas vezes, benefícios, não há que duvidar. Ou melhor, poder-se-á duvidar, com toda a legitimidade, porque a própria dúvida é revolução, mas chegar-se-á à conclusão de que foi em vão, essa dúvida.
Voltemos ao personagem principal. Como já devem ter percebido neste momento, trata-se de um ansiolítico. Pertence a uma família da alta classe medicamentosa, com grande crescimento económico e reconhecimento social, exponencialmente aumentados nos últimos tempos, devido, sobretudo, ao aumento das “revoluções interiores” nos indivíduos em geral, mas também à falta de tempo e preocupação da classe médica, sendo que, também estes défices de tempo e preocupação estão, provavelmente, correlacionados com as “revoluções interiores” nos próprios médicos (também têm direito, os pobres coitados). É da família das benzodiazepinas, de seu nome José Benzo, mas costumam chamar-lhe “Zé Benzinho”, por ser pequenino, é um 2 mg. Descendente longínquo do primeiro membro de tal família, à qual, já na altura do seu surgimento acidental, na década de 1950, se auguravam tempos áureos no futuro. As farmacêuticas querem, o paciente sonha, o comprido nasce. Diria Fernando Pessoa, ao dar uma vista de olhos pela actualidade.
E assim começa a viagem de Zé Benzinho, embalado prontamente com os seus irmãos, todos presos dentro de uma caixa. Não se importam minimamente com a impossibilidade de se mover. Aliás, eles não se importam com nada, são o arquétipo da calma, não há cá “revoluções interiores” nestes rebentos. Nem nunca há de haver, mesmo que atinjam a idade adulta, coisa que só acontece com alguns sortudos desta família, que ficam guardados numa qualquer gaveta, carteira ou bolso, de um indivíduo que achou que seria possível e até benéfico não fazer uso de toda a fornada de benzinhos ou benzões que trazia a embalagem que ele comprou, arranjando outras formas para combater a longo prazo as suas “revoluções interiores” (as maléficas). Vejam lá bem, o atrevimento de certas pessoas, a desobedecer assim ao médico!


(Continua…)



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