Alterações
Estruturais
Através das diversas técnicas de imagiologia cerebral,
foi possível, em alguns estudos realizados, detectar alterações em certas
regiões cerebrais. Estudos esses, que tendem, na sua grande maioria, a ser
razoavelmente consensuais e, por isso, podemos afirmar com significativa
certeza de que estas alterações estão efectivamente relacionadas com as
perturbações depressivas. No entanto, e como costuma dizer um professor meu, em
relação a esta matéria: “Não se sabe ainda ao certo quem nasceu primeiro, se o
ovo, se a galinha”, ou seja, será que é a depressão que causa alterações
estruturais? Ou serão as alterações estruturais que causam depressão?
Os dados apresentados seguidamente foram resultado da
conjunção da consulta de diversas obras.
Indubitavelmente, o fluxo sanguíneo e a actividade
metabólica mostram-se diminuídos, principalmente, nas regiões frontais, mas
também no resto do cérebro. Sendo que a hipoactivação frontal
esquerda está associada a lentificação psicomotora, pobreza da fala e ausência
de motivação, e a hipoactivação frontal direita está associada a comportamentos
ansiosos e pensamentos afectivamente negativos. Mais especificamente (e de uma
perspectiva diferente), em repouso,observa-se, geralmente, menor activação
do córtex pré-frontal dorso-lateral, associada aos sintomas de alterações
cognitivas, e maior activação do córtex pré-frontal ventro-medial, do córtex
pré-frontal orbito-frontal, da amígdala esquerda e da circunvolução cingulada,
associada aos sintomas emocionais e de ansiedade. Verifica-se também, em casos
de perturbações depressivas com características melancólicas, uma hipoactivação
de regiões parieto-temporais direitas. É sabido que o metabolismo pré-frontal
tem correlações com a capacidade de resposta clínica aos antidepressivos.
Coloca-se ainda a hipótese de que possa ocorrer uma perda celular
significativa, nas regiões frontais e temporais.
Como se percebe, as alterações ocorrem em diversas
interacções e dinâmicas, englobando diversas regiões cerebrais, e não apenas
uma certa estrutura. Isto poderá explicar, até certo ponto, a enorme
diversidade semiológica das perturbações depressivas.
Neurotransmissores
e Hormonas
Hoje em dia, a teoria
mais consensual sobre a relação entre os neurotransmissores e a depressão, é a
denominada “teoria monoaminérgica da depressão”, que nasceu depois da
observação dos resultados da aplicação de determinados psicofármacos em determinados
indivíduos.
Teoria essa que se baseia na proposição de que
o défice de concentração dos principais neurotransmissores monoaminérgicos, as
catecolaminas (dopamina, noradrenalina e serotonina), leva à depressão (pode
colocar-se aqui, novamente, a pergunta apresentada acima: quem nasceu primeiro?
O ovo ou a galinha?). Estes neurotransmissores estão, comprovadamente,
relacionados com a sensação de prazer, felicidade, energia positiva, motivação,
regulação do apetite, desejo sexual, ansiedade, etc..
Há quem defenda que esta teoria peca por ser
simplista e até redutora, devido à enorme diversidade de funções e áreas
cerebrais em que tais neurotransmissores actuam.
Há também uma outra influente teoria associada
à depressão, fortemente relacionada com o sistema endócrino e com o stress.
Sendo, portanto, usualmente conhecida como “teoria da disfunção endócrina na
depressão” ou “teoria do stressna depressão”.
Esta tem como base o excesso de libertação, e
consequente concentração, da hormona cortisol, aquando da resposta endócrina
que é dada numa determinada situação de stress. As situações
de stress no dia-a-dia, em quadro normal, activam a produção e
libertação de cortisol (pelas glândulas suprarrenais) e de outras hormonas,
como forma de resposta física ao medo ou ansiedade, na tentativa de deixar o
indivíduo fisiologicamente preparado para actuar, numa situação de “perigo”
iminente. Quando o nível de cortisol no sangue atinge uma certa concentração,
denominada de concentração óptima (ou seja, uma concentração que já seria
suficiente para dar a resposta necessária e adequada a determinada situação), ocorre
um outro mecanismo em cadeia (que envolve várias estruturas, entre as quais, o
hipotálamo e a hipófise), que ordena e coordena a diminuição da produção e
segregação de cortisol.
Ora, é exactamente no
incorrecto funcionamento deste mecanismo de “retro-regulação negativa” que
parece estar um dos problemas de uma pessoa com depressão. Sendo que 50 a 70 %
dos doentes hospitalizados com diagnóstico de perturbação depressiva,
apresentam níveis elevados de glicocorticóides no sangue, no líquido
cefalorraquidiano, na saliva ou na urina.
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