sábado, 9 de janeiro de 2016

A Depressão é uma Doença Real (Sinais e Sintomas)

Neste texto, abordo um dos conjuntos de perturbações psiquiátricas mais incapacitantes, tanto pelo nível de gravidade da incapacidade, como pela diversidade de áreas funcionais que afecta, nas quais, tantas vezes, torna o indivíduo incapaz. Numa tentativa e luta, que deve ser constante, para tentar desmistificar ao máximo a visão leiga das perturbações mentais, em particular das perturbações depressivas. Concordando com este facto, está a posição da OMS (Organização Mundial de Saúde) que afirmou especular que, em 2020, as perturbações depressivas sejam a segunda causa de carga global de doença a nível mundial, apenas ultrapassadas pelas doenças cardiovasculares. Para além disso, rotulou a depressão como a principal causa de incapacidade individual. Devido a esta globalização, a doença tem sido apelidada de “constipação da mente”.  
            Há sinais e sintomas (semiologia) que se associam directa e espontaneamente à depressão, mesmo em contextos de senso comum, tais como: tristeza (sem margem para dúvida, o mais evidente e comum), sofrimento, descrença, falta de motivação… e outros tantos que nos vêm imediatamente, ou pouco depois, à cabeça, sempre que ouvimos termos da família da palavra “depressão” (deprimido, depressivo, etc.), independentemente do contexto, da companhia ou do assunto correspondente. Ora, é realmente necessário esclarecer que, num quadro clínico de depressão, estes sinais e sintomas, conhecidos e declarados pelo senso comum, não são, por si só, critério suficiente para afirmar o diagnóstico de patologia, no mínimo, em 99,9% dos casos. Mas estão ou não tais sinais e sintomas presentes nos quadros de perturbações depressivas? Sim, sem qualquer dúvida. A tristeza, o sofrimento, a descrença, a falta de motivação, etc., estão quase sempre presentes em pacientes diagnosticados com quadros depressivos, e é necessário estar particularmente atento a todos eles. No entanto, existem centenas de outros sinais e sintomas, que podem surgir associados a este tipo de quadros, e que nos podem ajudar a complementar e aprofundar o diagnóstico de uma perturbação depressiva, com determinada classificação e especificação, fazendo uso da melhor diferenciação entre depressão (patologia/doença) e tristeza (normalidade) (abordarei esta necessária e complexa diferenciação numa publicação posterior).
Como já referi, a depressão é uma doença real, que deve ser encarada como outra patologia indubitável qualquer, e que afecta diversas áreas do funcionamento humano (em casos extremos, pode mesmo afectar todas). Ou seja, de um modo geral, podem ser apresentados conjuntos de sinais e sintomas pertencentes a quatro grandes grupos: emocionais, cognitivos, físicos e comportamentais (P. Afonso, 2015). Sendo que estes podem perturbar significativamente (e, geralmente, perturbam mesmo) o funcionamento normal do indivíduo em três grandes contextos: pessoal, social e profissional.
            Tendo isto em conta, apresento, de seguida, um conjunto, que penso ser relativamente abrangente (um conjunto realmente abrangente seria muitíssimo difícil e um totalmente abrangente seria praticamente impossível), de possíveis sinais e sintomas na generalidade dos quadros depressivos, que podem fazer variar o quadro e/ou especificação que é reconhecido no doente.

Conjunto de Sinais e Sintomas Possíveis na Generalidade dos Quadros Depressivos

Emocionais
Humor deprimido; tristeza efectiva e persistente; falta de esperança no futuro; pessimismo geral; choro fácil; labilidade emocional; incapacidade de adequar o estado de ânimo ao ambiente do momento; irritabilidade; agressividade; anestesia afectiva; anedonia; auto-desvalorização; culpabilização gratuita; pensamentos obsessivos ou delirantes; disprosódia; fixação ruminatória no passado; auto-condenação; remorso; dúvida sobre se vale a pena continuar a viver; desejo de morte visto como única solução; ausência de motivação e de iniciativa; sensação de mente vazia; sentimento de solidão constante;

Cognitivos
Perturbações da memória; baixa no rendimento e na productividade intelectual/profissional/escolar; confusão; dificuldades de atenção e concentração; distracção fácil, com tendência a “fugir” para pensamentos negativos; incapacidade de fixação;

Físicos
Dores corporais; perturbações gastro-intestinais; cefaleias (dores de cabeça); disfunções sexuais; perda de peso; falta de energia; cansaço fácil/fadiga persistente; ansiedade com todos os seus componentes (palpitações, aperto no peito, tremores, tonturas, suores, etc.); insónia ou hipersónia; falta de desejo sexual ou disfunções sexuais: anorgasmia (nas mulheres) e impotência (nos homens),  expressão facial e aspecto abatidos;

Comportamentais
Lentificação ou inibição motora; ausência de iniciativa motora voluntária; passagem de grande parte do tempo sentado ou deitado; adiamento sistemático de diversos tipos de tarefas; sentimento de que tudo acarreta enorme esforço; mímica triste, com ausência de sorriso; aspecto descuidado; desinteresse pela auto-imagem; perda de hábitos de higiene; alterações do comportamento alimentar; apatia geral; possível “estupor melancólico”; isolamento social; abuso de substâncias; inquietação/agitação; dificuldade em manter-se no mesmo sítio, sem motivo aparente; auto e/ou hétero-agressão.

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