Manhã estonteante, a que agora se mostra perante o
senhor Rolando. Oxalá todas fossem como esta. Ele já teve outras manhãs
confortáveis, particularmente nos últimos tempos, mas nunca nada assim. Esta é
especial. Todas as forças e energias positivas do universo estão sobre o seu
quarto, totalmente dirigidas para tornar o seu dia no mais próximo possível da
perfeição, apesar de nunca absolutamente perfeito. Pelo menos é essa a sua
sensação. Já está tudo perfeito: Os móveis brilham. As cores espalhadas
reluzem. Os objectos estão todos no sítio ideal. A luz que entra pela janela
está peculiarmente espectacular, mas não apenas no geral, todos os ínfimos
pormenores, todos os raios, todas as linhas, todos os ângulos, todos os
cruzamentos e ligações luzidios, tudo está no
seu máximo esplendor. E um segundo basta, a este homem, para apurar
todas as infinitas características de tudo o que está no quarto. Nunca esta luz
tinha entrado assim por qualquer outra janela do planeta terra. Mesmo sem
pedir licença, não há qualquer problema, é a melhor e mais oportuna luz de
sempre. No entanto, há ainda mais para aperfeiçoar, Rolando necessita de
aperfeiçoar esta manhã perfeita, necessita de auto-activação constante, da
busca do aperfeiçoamento da perfeição, apesar de tudo já estar tão perfeito aos
seus olhos e pensamento, física e psicologicamente.
As tais forças e energias positivas começam a
entranhar-se no seu corpo, ainda antes de Rolando pôr um pé no chão. Estava ele
a abrir os olhos, depois de uma noite de sono profundamente relaxante e
revigorante. Noite essa, também ela, a melhor noite de sono de sempre, apesar
de ter durado umas aparentemente poucas duas horas e picos. Não há, no seu
estado físico e/ou psicológico, qualquer sinal de cansaço, por mínimo que seja.
Numa escala de zero a cem, ele sente-se com nível zero de cansaço. Todas as
células do seu corpo estão afinadas ao máximo, proporcionando-lhe as melhores
conexões fisiológicas e o melhor metabolismo de sempre. E tudo na sua mente e
no seu sistema nervoso flui como água límpida. Cada neurónio comunica com os
restantes de uma forma tão veloz e precisa, que impossibilita quaisquer
“travões” no comboio do pensamento e da cognição. Até um TGV teria
inveja da velocidade de processamento do senhor Rolando neste momento. No seu
"processador", foi já ultrapassada a velocidade da luz.
Agora, para o senhor Rolando, tudo é possível. Aliás,
tudo sempre foi possível, mas Rolando só neste momento se apercebeu.
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