Para além das
possíveis causas biológicas, já abordadas em http://neurocenas1.blogspot.pt/2016/01/aspectos-neuropsicologicos-da-depressao_6.html,
existem ainda outras, que se associam também ao desencadeamento de uma
perturbação depressiva, sem que, no entanto, possam ser consideradas como
factor único de desencadeamento, visto que a depressão é unanimemente
considerada, hoje em dia, como uma doença complexa, multifactorial e
multicausal. São também identificáveis certos factores de risco que, quando
“activados”, podem contribuir para o início da castástrofe.
Apesar de se pensar, com fortes
indícios, que a depressão é realmente desencadeada por um conjunto de causas
diferenciadas, é usual (era ainda mais usual há uns anos) utilizar uma
distinção entre as depressões com causas exógenas (depressão reactiva) e as
depressões com causas endógenas (depressão endógena). Esta distinção nasceu há
muito tempo, e veio, essencialmente, tentar ajudar no desvendar da doença,
mostrando os dois lados possíveis da visão da depressão, assim como de muitas
outras doenças psiquiátricas. Por um lado, tínhamos os defensores de que
reinavam as causas exógenas, ou seja, que o factor desencadeante de um
perturbação depressiva era, geral e provavelmente, algum acontecimento exterior
ao indivíduo, mas no qual este tinha estado de alguma maneira envolvido,
formando um trauma (por exemplo: morte de um familiar, situação de desemprego,
situação familiar difícil, etc.). Por outro lado, estavam os grandes defensores
das causas endógenas, que ainda hoje se mantêm e até aumentam em número, total
ou quase totalmente “escravizados” pelos factores biológicos, e que ficam, muitas
vezes, sem uma explicação visível para determinados casos. Estas duas visões
distintas acabam, geralmente, por unir-se, formando a visão ampla e multicausal
que hoje se atribui à origem das perturbações depressivas.
Existem
também, hoje, grandes evidências da influência do factor genético, postas à
prova em diversas experiências, todas elas parecendo concordar quanto à
existência de, pelo menos, um risco acrescido quanto existem antecedentes
familiares de depressão.
Há
bastantes outros factores de risco que podem, efectivamente, contribuir para o
aparecimento da doença. Podemos contar, entre outros, com: Antecedentes de
episódios anteriores de depressão; traços de personalidade associados ao
neuroticismo, obsessividade e impulsividade; sexo feminino; classe social baixa;
situação de desemprego; residência em zona urbana; ocorrência de acontecimentos
de vida adversos; falta de confiança; presença de outras doenças psiquiátricas;
presença de doenças físicas (por exemplo, esclerose múltipla, hipotiroidismo,
etc.) (Afonso P., 2015).
Apesar de todas estas possíveis
causas e factores de risco, é importante referir que a depressão não exclui
ninguém do seu domínio avassalador pelo brasão da tristeza profunda. Por
exemplo, apesar de ser mais frequente no sexo feminino, há milhares de homens
que sofrem com esta doença, e apesar das classes sociais mais baixas estarem
mais susceptíveis, há milhares de pessoas nas classes mais altas que sofrem
também de depressão, tão profunda como qualquer outra, inclusive, muitas
celebridades de ambos os sexos já deram o seu testemunho, afirmando que
passaram ou estão a passar por uma perturbação depressiva.
É
relevante tentar lutar física e psicologicamente contra este “demónio”. Mesmo
nos momentos em que estamos mais em baixo, é essencial lembramo-nos dos nossos
amigos neurotransmissores. Ainda que não se saiba tudo acerca deles, pode
afirmar-se que se os processos estiverem normalizados a nível sináptico, o
universo será um sítio melhor (não perfeito, não totalmente resolvido, mas
melhor). E, para que tal aconteça, basta, por vezes, alterarmos
o nosso pensamento corrente, mesmo que com algum esforço inicial ou até com
ajuda profissional.